quarta-feira, 27 de abril de 2011

A pica dói... se dói!

Hoje a Maria foi levar as vacinas dos dois meses. Fomos inscrevê-la ao Centro de Saúde da nossa freguesia e esperámos que a Sra. Enfermeira chamasse pelo nome da Maria. Eu já estava a sofrer por antecipação ainda nem tínhamos entrado.
Disseram-me para pegar nela como se lhe fosse dar de mamar e para lhe segurar na perninha. Logo aí a Maria estranhou. Aliás, parecia estar a adivinhar, pois assim que lhe passaram o algodão na perna ela olhou de lado e depois para mim como se quisesse perguntar: "o que me vai acontecer?" e a seguir foi a pica. As lágrimas gordas começaram a cair, ela olhava para mim incrédula: "como pudeste deixar que me fizessem isto?", e eu a pensar que queria estar no lugar dela para não ser ela a sentir aquela dor.
Sempre me disseram que nos dói mais a nós do que a eles, mas nunca o tinha sentido e foi apenas uma vacina! Faço ideia do que sentiram os nossos pais e avós quando passámos por situações difíceis e dolorosas na vida.
O sentimento de impotência dá lugar à vontade de querer estar no lugar dela para a livrar daquela dor, por mais pequena que seja. Quer se trate de uma dor de barriga ou de uma dor do coração, daqueles que permanecem durante muitos dias e que não passam com massagens ou miminhos.
O problema é que na vida nada se consegue de verdade sem sacrifício. Deus não prometeu a Facilidade mas a Felicidade. E agora como decidir?! Que grande dilema este que os pais enfrentam: por um lado querem proteger os filhos de todas as dores, mas por outro sabem que se eles não passarem por elas, nunca conseguirão ser felizes de verdade.
É uma dualidade de sentimentos difícil de gerir, saber que lhe vai doer muito, mas que é para o bem dela. E hoje foi apenas uma vacina...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O tempo voa: 2 meses!

A Maria já fez 2 meses! Como o tempo voa! Já está a palrar e fica muito enervada quando não se consegue expressar. Faz um esforço enorme e lá deixa escapar um ah! e depois uma gargalhada.
As manhãs passadas à conversa são cada vez mais preenchidas, pois a vontade de socializar é cada vez maior. É impressionante a capacidade de aprendizagem de um bebé!
Agora o desafio é conseguir que ela pegue no biberão. Dizem que a memória dos bebés nesta fase é curta, mas sempre que ela vê o biberão começa a chorar. Deve ser porque se lembra das vezes em que se engasga. Não sei que mais tentar... O objectivo é que até ao dia 7 de Maio ela consiga beber o meu leite através de biberão, para que eu possa ir a dois casamentos sem a preocupação de a ter que levar. Mas sem biberão não há diversão (pelo menos até muito tarde)!
Atingidos os 2 meses uma série de novas preocupações começam: as vacinas e as reacções às vacinas, as cólicas cada vez mais fortes, a passagem para o quarto dela, a transição do leite materno para o leite artificial... pois, esta última é porque vou começar a trabalhar em breve... Já tinha dito que o tempo voa? Estou a repetir-me, mas é mesmo essa a minha grande preocupação neste momento. É que já passou mais de metade do tempo que tenho para a Maria em exclusivo, e soube a muito pouco. Agora a contagem já é decrescente! Ela é tão pequenina, e muda tanto em cada dia que tenho medo de perder os pequenos momentos da mudança, das tentativas falhadas e das tentativas conseguidas. Quero poder estar presente nas suas conquistas e ampará-la nas derrotas, mas a trabalhar parece impossível. Algum dia ia ter que recomeçar, porém não é fácil constatar que a maior parte do dia será passada com outra pessoa que não eu. Vou pensar que tudo não passa de uma forma de organização do tempo que voa! Já o tinha dito?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Simplificar

A Maria passou o primeiro fim de semana fora de casa! Na 5ª feira eu já tinha o complicómetro ligado e tiveram que ser os meus pais a contar-me alguns episódios da minha infância para me convencerem que mais vale simplificar.
Combinámos ir rumo a São Martinho do Porto para a nossa casa de praia. Uma casa mesmo em frente à praia! Que bom! E é realmente um privilégio ter uma casa ali, mas é uma casa com 100 anos e que precisa de algumas (vá algumas é pouco) obras! O cheiro a mofo tão característico, a banheira antiga na casa de banho que verte água, o chuveiro com água muito quente ou muito fria, as janelas de madeira cheias de frestas, etc. Tudo isso nunca me incomodou, mas de repente começou-me a fazer um pouco de espécie quando planeei ir com a minha filha para lá. "Não há condições!"... pensei. Além disso lá não temos berço, não há banheira para ela, nem muda fraldas, nem tão pouco há aquecimento central para garantir que a temperatura do quarto fica amena. É evidente que os meus pais acabaram por me dizer que no meu tempo, tinha eu a idade da Maria, eu dormia numa gaveta forrada com mantinhas e viajava no carro sem cadeirinha, e ia de tal maneira solta que uma vez fui parar ao chão com uma travagem!
Depois de algumas histórias destas resolvi deixar o complicómetro em Lisboa e levar na bagagem apenas o essencial: simplicidade e boa disposição! Devo dizer que o fim de semana correu muito bem, apesar de algumas cólicas que não deixaram a Maria gozar mais e melhor o ar do mar. A Maria dormiu na cama da minha irmã, forrada de mantinhas e almofadas, tomou banho no lavatório e mudou as fraldas no sofá. Vale a pena simplificar!
Olho para a minha geração e para as gerações a seguir e acho que hoje em dia, simplificar, acaba por ser uma tarefa quase impossível. É que, apesar da tão afamada crise, vivemos com muitas coisas, aliás com coisas a mais, de tal maneira que já não sabemos simplificar. No fundo, desaprendemos a saber viver com pouco, a viver na simplicidade e ter que improvisar de vez em quando. Mas quando conseguimos simplificar e usar apenas o essencial, a vida sabe muito melhor.
É esse o espírito que quero passar à minha filha: que ela aprenda e nunca desaprenda a saber viver com pouco, pois só assim saberá o que é verdadeiramente essencial na vida!
Próximo fim de semana: São Pedro do Sul (e o complicómetro fica cá!).

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A salinha dos bebés

Comecei o exercício físico de recuperação pós-parto. Inscrevi-me nas aulas de recuperação do Centro Pré e Pós Parto (que desde já recomendo vivamente) e agora faço exercício 3 vezes por semana, coisa que já não acontecia desde os tempos da faculdade!
Podia ser um ginásio qualquer e não ter nada de especial que me desse motivação para escrever aqui, mas a realidade é que é um espaço muito especial feito a pensar nas mamãs recentes.
As aulas têm exercícios específicos para a barriguita, totalmente diferentes dos tradicionais abdominais a que estamos habituadas e que tanto custam a fazer. Existe um acompanhamento mensal com avaliações físicas e o melhor de tudo é que as alunas estão todas na mesma situação! Por isso não há espaço para sentir aqueles complexos de quem recomeça a fazer exercício físico depois de muito tempo parada e veste t-shirts largas e camisolas para as primeiras aulas para não deixar à mostra as "banhas", enquanto a colega do lado, toda ela fitness, tem um corpo quase perfeito, já sabe todos os esquemas e faz todos os exercícios com o peso máximo! Ali somos todas iguais, passamos todas pelo mesmo, somos todas solidárias.
A mensalidade que se paga (75€) dá acesso às aulas e também a inúmeros workshops sobre temas que interessam a todas as mamãs.
Mas o melhor é o cantinho onde a magia acontece: "A salinha dos bebés".
Como o nome indica é uma salinha com acesso reservado a bebés e a duas enfermeiras que tomam conta deles durante as aulas. É uma sala com acesso a um jardim interior, onde não podemos fazer barulho e devemos entrar com "pezinhos de lã". À entrada ficam "estacionados" as cadeiras auto onde alguns bebés dormem e o resto da sala é forrada de mantas e almofadas espalhadas pelo chão.
Deixei a Maria às 14h45 e fui-me equipar para a aula. A enfermeira perguntou-me se tinha algum brinquedo que ela gostasse ou alguma dica para a acalmar caso chorasse. Eu deixei-lhe a chucha e disse que ela era calminha e não iria chorar pois já tinha comido e o mais provável era adormecer. Durante a aula aguentei-me para não ir lá espreitar! No final quando me cheguei à porta procurei com os olhos pela Maria... Não estava na cadeirinha! Pensei logo: "Para onde a levaram?". Rapidamente os meus olhos pousaram sobre o mar de almofadas onde a Maria estava refastelada, ao lado da Beatriz e do André (um bocadinho mais velhos). Não conversavam, não choravam, nem dormiam. Estavam os três nos seus pensamentos de bebés a observar tudo à sua volta, tão tranquilos no quentinho daqueles ninhos de mantas e almofadas. É mágica a salinha dos bebés porque faz magia em nós. No final da aula, depois de uma hora de esforço para recuperar a forma e o peso que tínhamos antes do nosso corpo se transformar numa incubadora durante 9 meses, poder parar e contemplar aqueles pequeninos que começam agora a descobrir o mundo cá fora dá-nos uma sensação de paz e de felicidade que é mágica! Quem dera que todos pudéssemos ver uma salinha de bebés para absorver aquela fragilidade que nos cala no meio do stress do dia a dia e que nos faz ver o verdadeiro sentido da vida: a entrega total para que um ser mais frágil do que nós possa vingar!

domingo, 3 de abril de 2011

Rotinas sim, rotineira não!

Estou a ler um livro sobre criar rotinas no bebé. Parece uma tarefa impossível e ao mesmo tempo revela-se tão necessária para a nossa sanidade física e mental! Depois de um mês e meio a não dormir a noite toda, a almoçar e jantar quando calha e tomar banho naquela hora em que ela dorme, mas que varia todos os dias... chegou a hora de dizer basta! É preciso começar a criar rotinas na Maria e hábitos de sono para que ela aprenda a adormecer sozinha na sua cama sem a ajuda do embalo do colo, para que comece a ter noção do dia e da noite, e dos momentos para brincar e para comer.
Constato isto porque que todos precisamos de rotinas na nossa vida, é inevitável! Mas tambéms todos sabemos o quão monótono e cansativo elas podem ser.
Quantas vezes nos queixamos: da rotina "Casa-trabalho, trabalho-casa", das refeições programadas, do dia para ir ao supermercado, dos fins de semana preenchidos com programas em família que já não sabem a nada, até da missa de Domingo! São tudo exemplos de situações que já não conseguimos apreciar porque (achamos nós) caíram numa rotina. Depois, para combater esse desgaste ansiamos por férias, para quebrar a tão mal afamada rotina, mas todos nos lembramos dos tempos de escola em que no final das férias já sentíamos a ansiedade do regresso às aulas, aquela vontade de comprar cadernos e estojos novos, de actualizar as fotografias coladas no dossier, de saber os horários e as disciplinas... no fundo a necessidade de voltar a entrar numa rotina.
Acho mesmo que ninguém consegue viver bem durante muito tempo sem criar rotinas porque são fundamentais para a optimização do nosso tempo.
Por essa razão, não são as rotinas que tornam os nossos dias enfadonhos e sem graça. Não são as rotinas que nos desgastam e nos fazem cansar da vida que levamos. Antes, é a nossa capacidade, ou a falta dela, em tornarmos os vários momentos do nosso dia únicos e especiais. A tentação é de seguir o caminho mais fácil e tornarmo-nos pessoas rotineiras. Assim, somos muitas vezes rotineiros em várias situações da nossa vida, desde a ida para o trabalho até à missa de Domingo. O segredo, penso, está em impedir que nos tornemos rotineiros e isso só é possível com uma atitude de agradecimento constante por cada dia que nos é dado viver. Sim, porque os dias são-nos dados. Não são conquistados por nós, nem ganhos com base no mérito ou na sorte, são-nos dados! Ao ter presente esta realidade, fica muito mais fácil saborear cada momento do dia ainda que dentro da nossa rotina, e torná-lo diferente do dia anterior e do dia seguinte, porque se torna único!
Carpe Diem!