terça-feira, 25 de setembro de 2012

Indignação

Hoje, após uma longa jornada de trabalho e uma discussão sobre a crise à sobremesa, fiquei a pensar sobre a indignação e qual o limite para se estar indignado. É que nao sendo a indignação um direito, não existe verdadeiramente um limite para se estar indignado, isto porque a indignação de cada um pode ser tão subjectiva...

Tal como a dignidade é absoluta também a indignação o é, logo eu não devo dizer ao meu vizinho se deve ou pode estar ou não indignado, ele é que sabe se tem razões para estar indignando. Parece que os pais têm uma grande facilidade em avaliar o grau de indignação dos filhos e, por consequência, a sua justificação e o respectivo limite. Mas como são pais, os filhos até compreendem. Já não se compreende quando são outras pessoas que nada têm a ver connosco. Porque raio é que uma pessoa mais pobre pode/deve estar mais indignada do que uma pessoa mais rica ou vice-versa? E até que ponto posso estar indignado sem correr o risco de me chamarem mariquinhas? 

Não existe um direito à indignação! Simplesmente se está indignado ou não se está! E note-se bem que eu disse estar e não ser. É que a indignação é um estado temporário/transitorio que serve precisamente paramarcar um ponto de mudança interior que por sua vez impulsiona uma mudança exterior. Não se é indignado!

O que fazer depois de estar indignado é que é a chave do problema. A diferença entre a indignação e o queixume é precisamente a permanência num estado de reclamação e cobrança constante, o que no caso do queixume se torna prejudicial para a própria pessoa porque conduz ao pessimismo.

Parece que hoje já não estamos indignados, somos indignados! E é isso que vai corroer a nossa última réstia de esperança, aquele que nos poderia impulsionar para a mudança.

Eu não quero que a Maria cresça numa geração de pais e permanentemente indignados. Eu não quero que o queixume se apodere de mim e transforme o meu dia a dia numa constante reclamação capaz de matar todo e qualquer sonho. Hoje estou indignada mas amanhã quero trabalhar para mudar (o meu centro de gravidade)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O amolador de tesouras

Todos sabem entoar as notas musicais que o amolador de tesouras toca quando está a chegar a uma rua. Aquele som é familiar a qualquer ouvido lisboeta. Característico da cidade doutros tempos, é um som que antecipa a chuva, pelo menos já dizia a minha avó Maria.
Ontem, dia 11 de Setembro, recordou-se a tragédia que mudou o mundo. A história da humanidade encerrou um capítulo e começou um novo em que tudo acontece à velocidade da luz, em que as ligações se estabelecem com a facilidade de um "click" e em que quem não está ligado a uma rede social é excluído dos acontecimentos.
Ontem, dia 11 de Setembro, muitos pararam para ouvir o Ministro das Finanças falar em sacrifícios e gerações futuras, outros não; muitos saíram mais cedo para poder assistir ao jogo de Portugal com o Azerbeijão, outros não. Talvez porque já estejam fartos de ouvir sempre a mesma coisa, seja na política seja no futebol.
Ontem, dia 11 de Setembro, eu ouvi o amolador de tesouras na rua onde trabalho, ouvi aquele som que sobressaiu no meio dos sons da rua e dos carros, como se calasse tudo à sua volta. Ouvi as notas simples e conhecidas que todos os amoladores sabem tocar e voltei atrás no tempo. Por momentos lembrei-me da minha avó Maria, das férias grandes com os primos, das brincadeiras na rua, do tempo em que as profissões do futuro eram simples e fáceis de entender. O que faz um amolador de tesouras? Afia tesouras. O que faz um sapateiro? Conserta sapatos. O que faz um consultor comercial? O que faz um assessor? O que faz um jurista? O que faz um designer? O que faço eu? Aquele som tranquilizou-me a alma porque me recordou que a simplicidade das coisas é o que lhes dá a verdadeira beleza e que os meus sonhos para o meu futuro e o futuro da Maria são simples e fáceis de entender.
No meio desta confusão de sinalética e vocabulário de difícil compreensão, em que ninguém sabe qual a direção a seguir,  ainda se ouvem amoladores de tesouras em Lisboa!